Para a agricultora Nelida Mieres, 53 anos, a terça-feira (11) foi dia de ganhar água. A moradora da localidade de Sertão de Canta Galo, interior de Rolante, é uma das 1.850 pessoas que dependem de abastecimento pelo caminhão-pipa do Corpo de Bombeiros Voluntários do município do Vale do Paranhana. A situação se estende há quase três anos, agravada por estiagens como a de agora.
"A baixa precipitação pluviométrica, que vem baixando os lençóis freáticos, arroio e o rios Rolante e Areia, provoca a falta de água para abastecimento humano e de animais", diz o comandante dos Bombeiros e coordenador operacional da Defesa Civil, Leandro Gottschalk, referindo-se à escassez de água nos poços.
Desde dezembro de 2021, os bombeiros vêm abastecendo a cada três dias com caminhão pipa as famílias das localidades Glória, Canta Galo, Sertão do Canta Galo, Morro Grande, Maragata e Colônia Monge. Em Rolante, a restrição hídrica iniciou em outubro. As chuvas neste período foram poucas, o que não supriu os mananciais suficientemente.
"O município vem trabalhando, com o transporte de água, para que essas pessoas possam ter uma vida melhor", diz o comandante, reforçando que a solução é a perfuração de mais poços artesianos em outras localidades e nas atuais, o que possibilitaria maior reserva de água.
Na propriedade da dona Nelida, além dela e do marido vivem 13 pessoas, entre filhos, netos, genro e nora. A água também é para a criação: 25 ovelhas, nove cavalos, duas porcas, galinhas, vacas e cachorros. Os 10 mil litros colocados em caixas d'água pelos Bombeiros e Defesa Civil devem durar três a quatro dias. "Agradeço pelo que fazem pela gente. Se não fossem eles, já teríamos morrido de sede e os bichos também", sintetiza.
O coordenador-geral da Defesa Civil, Cleber Zaro, salienta que Rolante é abastecida pela Corsan, mas as localidades do interior dependem do poço artesiano, que esvazia por conta da estiagem. Por isso, acrescenta, os Bombeiros e Defesa Civil estão levando água. A esperança agora recai sobre a homologação pelo Estado da situação de emergência decretada no município, para auxiliar essas localidades. Isso permitiria linhas de crédito a agricultores e perfuração de novos poços.
A situação em países vizinhos confirma a previsão de chegada de mais calor à região. A semana começou com marcas acima de 40°C na Argentina. As altas temperaturas registradas lá ajudam a reforçar a expectativa de forte calor no Rio Grande do Sul nos próximos dias. Segunda-feira, diversas localidades argentinas tiveram máximas que não eram registradas há décadas - como os 42,8°C em San Antonio Oeste, na Patagônia.
A MetSul Meteorologia aponta tendência de calor acima da média para a estação. A empresa de meteorologia estima ainda que um grande número de províncias da Argentina superem a marca de 45°C nos próximos dias.
Estael Sias, meteorologista da MetSul, explica que o bloqueio atmosférico e a estiagem severa são fenômenos que, além da Argentina, têm afetado também o Uruguai e os Estados da Região Sul do Brasil - Santa Catarina, Paraná e o Rio Grande do Sul.
Com isso, para o Estado, Estael prevê que a metade oeste deva atingir os 40°C, podendo chegar até 43°C na fronteira com a Argentina. Já a Região Metropolitana deve registrar temperaturas na faixa dos 39°C. Em algumas partes do RS, recordes de temperatura podem ser quebrados, mas, conforme a meteorologista, é improvável que isso aconteça na região.
"Já tivemos 41°C no dia 2 de janeiro em Campo Bom. É difícil a gente quebrar essa marca, mas a gente está diariamente avaliando porque isso pode mudar até a segunda-feira", pontua.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INMet) informa que mais da metade do Rio Grande do Sul está em alerta de perigo devido à onda de calor que chegou no Estado nesta terça-feira e que deve se manter com temperaturas mais elevadas que o habitual até a próxima quinta-feira. O aviso afirma que os 5°C acima da média podem oferecer risco à saúde.
De acordo com o órgão, as regiões afetadas serão: Sudoeste Rio-grandense, Centro Ocidental Rio-grandense, Noroeste Rio-grandense, Sudeste Rio-grandense, Centro Oriental Rio-grandense, Oeste Catarinense e parte da Região Metropolitana de Porto Alegre.
O Consórcio Pró-Sinos informa que está monitorando a situação hídrica da região. "Diante da estiagem que provoca a redução do nível e da vazão das águas, a situação do Rio dos Sinos tem sido monitorada pelo Consórcio Pró-Sinos. A falta de chuva dos últimos dias e a previsão de dias quentes, com temperaturas que podem ultrapassar os 40°C, oferecem risco para a região. O nível do rio segue baixando, mas, diferentemente da semana passada, não foram registradas mortes de peixes", divulgou nota. A entidade alerta que a situação requer uso racional da água, aconselhando que os consumidores adotem medidas para economia em suas casas.