Sinal de alerta para os produtores de arroz da região. A captação de água pode ser suspensa se o nível do Rio dos Sinos marcar 50 centímetros ou menos na régua do Semae, em São Leopoldo, ou indicar índice igual ou inferior a 1,30 metro no trecho de captação de água pela Corsan, em Campo Bom.
Altas temperaturas
"Os rios estão bem acima da caixa. Como estamos dentro da bacia do Guaíba, estamos no mesmo nível de Porto Alegre", tranquiliza o arrozeiro de Nova Santa Rita João Hanus, 52. Instalado desde 2008, o produtor tem 700 hectares de área plantada na Granja Nenê.
"Se houvesse a necessidade de trancar a água, eu teria um prejuízo gigantesco, de 80%, com a temperatura alta na raiz, pois o arroz é muito sensível à luz." O destino de 118 arrozeiros do município de Canoas também está atrelado ao vento.
"Se pegar vento Nordeste na região, o rio baixa até um metro e meio. Já o vento Sul represa o Guaíba e aí a água sobe um metro e meio", explica Hanus, que trabalho no ramo desde a infância em Santa Catarina.
Nem Canoas nem Nova Santa Rita precisaram decretar situação de emergência por causa da estiagem, mas nem por isso os impactos para a área plantada, a qualidade e o preço são menores por aqui.
A bolha
A massa de ar quente que pairou sobre os municípios da região em janeiro, a tal bolha, decretou um ano difícil para o arroz, quer seja ao produtor, quer seja ao consumidor. "O arroz resiste bem até 32 graus de temperatura. Pelo excesso de temperatura no mês passado, os grãos da ponta do cacho ficaram sem umidade, como se fosse a ponta dos dedos em que o sangue não chega e gera a dormência. Aí ocorreu o abortamento dos grãos", lamenta Hanus.
Para colher 3,5 mil sacas por dia de 50 quilos (175 toneladas) ele inicia os trabalhos às 6 horas e segue até às 24 horas ao lado do ajudante Piero bez Rojas (foto). O tempo é um aliado ou um vilão. "Preparo a terra em junho, planto no início de outubro e colho entre fevereiro e março. Não tenho seguro da lavoura porque só cobre granizo e vendaval, não cobre enchente e outros fenômenos."
Perdas e danos
"Na safra passada, colhemos 120 mil sacas de arroz (50 quilos), mas a expectativa para 2022 é 110 mil, no máximo: ou seja, 10 mil a menos", alerta Hanus. "Se eu tiver que vender arroz a R$ 74 a saca não pagarei meu custo", observa. "Não conseguirei comprar insumos para a safra que vem. Para ganhar uma margem de 5% a 8% teria que vender a R$ 100." O preço atual da saca gira em torno de R$ 75, pressionando os custos na ponta.
Em São Leopoldo, na manhã de ontem, o nível de captação do rio estava em 1,50 metro, segundo a régua do Smae. Já em Campo Bom, a marca era de 1,59, de acordo com a Corsan.
Alexandre Velho, da Federarroz, entende a resolução e diz que "num momento de escassez, não tem como privilegiar a lavoura e deixar a população desassistida". A diretoria da entidade, explica, tem consciência da situação de que podem faltar recursos hídricos. Sobre eventuais prejuízos à produção, garante que é cedo para se manifestar.
A estiagem que atinge o RS tem causado prejuízos em quase 70% dos municípios. Com investimento de R$ 66 milhões, a proposta de solução é construir mais de seis mil açudes. Serão
destinados R$ 100 milhões para a perfuração de poços e a instalação de caixas d’água e conjuntos de cisternas nas áreas mais atingidas. R$ 20 milhões ainda devem ser usados para o transporte da água.
Em Nova Santa Rita, a 19ª Festa da Colheita do Arroz Agroecológico, celebrada por assentadas e assentados do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) ocorre em 18 de março, às 12h30, na sede da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan).
No RS, as famílias camponesas estimam colher na safra 2021/2022 mais de 15 toneladas, cerca de 310 mil sacas, em aproximadamente 3.196,23 hectares.
Conforme a Emater, em Nova Santa Rita, o arroz convencional colhe de 150 a 200 sacos por hectare, enquanto o orgânico, de 80 a 100 sacas. Também há captação de água dos rios Sinos e Caí pelos 80 assentados.