"Meu roupeiro é esta geladeira velha", brinca.
Por alguns anos, Naruê foi dono de um bar no Paquetá que vendia cerveja e bolinhos de peixe. Mas perdeu a esposa para outro homem e encontrou na rua um lugar, diz ele, "para viver em paz". "Eu sou morador de rua, tive outra namorada depois, mas ela morreu há quatro anos. Eu também perdi um filho para a violência", explica de forma franca, com lágrimas nos olhos, sem rodeios. "Tive uma questão com bebida, hoje tenho outra namorada e um caderno velho onde escrevo alguns pensamentos."
Naruê diz que se afastou dos familiares para não incomodar, mas não tem briga com ninguém. Vive sozinho. "Quem não é visto, não é lembrado, na rua nunca tive problemas." É no ferro-velho que arranja uns trocados para se manter, ajudando na solda e em tudo o mais que o serviço pedir.
Naruê se comunica muito bem e faz questão de deixar o seu espaço bem organizado para não deixar ninguém na vizinhança com receio da presença dele ali. "Vim do interior, tenho o Ensino Médio, em Canoas, estudei na Escola Ceará e na Bento Gonçalves", recorda. "Meu pai era PM e acabei saindo de casa porque as coisas funcionavam como se fosse um quartel."
A barba e o cabelo estão bem aparados, graças ao trabalho do projeto Barbeiros Solidários. "A gente ficou amigo do pessoal", lembra. "Quando a gente corta o cabelo e faz a barba a gente fica se achando!"
Autoestima
Há cinco anos, o barbeiro Ivan Kramer, 31, decidiu usar suas habilidades para levar autoestima aos moradores de rua, quando completava a formação. "Eu fazia o curso técnico para barbeiro e os colegas de curso apoiaram a ideia", recorda. "Eu já atendia moradores de rua com alimentação, alguns eu já conhecia." Hoje os Barbeiros Solidários atendem nos fins de semana, na parte da tarde.
O Albergue Municipal voltou a funcionar no local original, Na Avenida Rio Grande do Sul esquina com a Rua Caçapava, após o período de reforma. “Atendemos 25 pessoas por noite, se há superlotação o Grupo de Inclusão Social, Giseda, recebe essas pessoas”, aponta a secretária de Desenvolvimento Social, Luísa Camargo. “Nosso diagnóstico é que essas pessoas têm fragilidade de vínculos com as famílias ou doenças psiquiátricas que dificultam o convívio.” Há ainda a luta contra as drogas, que nem todos conseguem vencer.